terça-feira, 6 de setembro de 2016

Paper do capítulo "Escrita e interação. In: Ler e escrever: estratégias de produção textual", de KOCH e ELIAS

A PRODUÇÃO TEXTUAL COMO MEIO INTERACIONAL



RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar a resenha do texto Ler e escrever: estratégias de produção textual (capítulo 2) de Ingedore Villaça KOCH e Vanda Maria ELIAS. É o resultado de uma produção textual solicitada na aula da disciplina: Oficina de compreensão e produção textual acadêmica. O capítulo em questão discute as formas de interação entre escritor, texto e leitor e como essas formas ajudam nas diferentes situações de comunicação.

Palavras-chave: Interação. Escrita. Produção textual.

INTRODUÇÃO

O capítulo 2, que será apresentado aqui, inicia-se com uma frase interrogativa: o que é a escrita? A partir desta pergunta, é proposto um debate acerca do que seja a escrita. A autora argumenta que responder a essa pergunta é uma tarefa difícil, visto que escrever envolve aspectos de natureza variada: linguística, cognitiva, pragmática, sócio-histórica e cultural. Mas afirma que hoje, diferentemente de  tempos passados, em que era bem comum a existência de comunidades ágrafas, a escrita faz parte da nossa vida, pois somos constantemente solicitados a escrever e ler textos de vários gêneros, e isso prova que a escrita, que antes era restrita a poucos, hoje se popularizou

"Barré-de-Miniac (2006, p38 apud KOCH, 2012, P31) afirma que 'hoje, a escrita não é mais domínio exclusivo dos escrivães e dos eruditos. [...] A prática da escrita de fato se generalizou: além dos trabalhos escolares ou eruditos, é utilizada para o trabalho, a comunicação, a gestão da vida pessoal e doméstica'.” (p31)


Ao citar Barré-de-Miniac (2006, p38), KOCH reforça sua afirmativa: hoje, de fato, a escrita não é mais restrita, para poucos, ela generalizou-se, sendo utilizada em várias situações do dia a dia.
            Nesse capítulo, a autora expõe três tópicos importantes em relação à escrita: a escrita com foco na língua, foco no escritor e foco na interação. Ela ressalta que o texto deve seguir aos padrões e às regras impostas pelo código linguístico, para assim atingir seu resultado final: ser entendido pelo leitor, mas o leitor deve ter conhecimento do código para que tal resultado seja obtido. Ao falar da Escrita: foco no escritor, KOCH argumenta que a escrita é fruto do pensamento, dos sentimentos e das experiências de alguém que deseja que estes sejam captados pelo leitor da maneira como foram idealizados. O escritor se expressa, mas sem levar em conta as experiências, o repertório do leitor. A intenção é apenas transmitir suas ideias. No tópico seguinte, intitulado “Escrita: foco na interação”, diferentemente das concepções anteriores, o escritor, ao desenvolver seu texto, não pensa apenas nas regras da língua e em suas intenções, mas pensa também no seu leitor. KOCH mostra que, ao escrever, o autor preocupa-se com a interação, leva em conta que o leitor também faz parte desse processo interacional, dessa troca de conhecimentos, mas claro, sem deixar as regras de lado, contudo essas deixam de ser a parte mais importante em tal processo.
“[...] o produtor, de forma não linear, “pensa” no que vai escrever e em seu leitor, depois escreve, lê o que escreveu, revê ou reescreve o que julga necessário, em um movimento constante e on-line guiado pelo princípio interacional” (p34)

A produção escrita deve estabelecer o contato interacional com o leitor, pois o texto é pensado e direcionado a ele, e não somente um conjunto de regras. Portanto, o foco é a interação. Com estes três tópicos, a autora mostra as diferentes maneiras de produção textual, ou seja, a produção da escrita em diferentes focos: nas regras gramaticais, na intencionalidade do produtor do texto e na interação escritor-leitor.
            Após falar da interação escritor-texto-leitor, a autora faz uma abordagem sobre a escrita e ativação dos conhecimentos, mostrando que, ao escrever, o autor recorre a diversos conhecimentos que têm em sua memória, para assim desenvolver a escrita, são eles: Conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico, conhecimento de textos e conhecimentos interacionais. Esses conhecimentos não são estáticos, eles mudam conforme as experiências e convenções sociais.  A seguir, o texto traz uma breve abordagem sobre os tipos de conhecimentos ativados no processo de escrita.
Segundo KOCH e ELIAS, a atividade de escrever exige que o autor/produtor do texto tenha conhecimento sobre as regras da gramática, sobre os empregos corretos das vírgulas e demais pontuações. Isso é fundamental, pois facilita a comunicação e interação entre escritor/leitor, uma vez que até mesmo uma palavra usada indevidamente prejudica a mensagem que se deseja repassar, pois “[...] conhecer como as palavras devem ser grafadas corretamente segundo convenção da escrita é um aspecto importante para a produção textual e a obtenção do objetivo almejado.” p37 (itálico meu). Em outras palavras, para produzir um bom texto, com palavras escritas corretamente, o escritor recorre a seus conhecimentos linguísticos.
O próximo conhecimento a ser citado é o enciclopédico, que, conforme as autoras, mostra-se presente quando o autor, ao produzir músicas, tirinhas etc., recorre a tais conhecimentos que tem na memória, sejam eles: cultural, literário, histórico e científico. As autoras apontam que muitos textos de humor (tirinhas) utilizam-se desse conhecimento enciclopédico para tornar os textos engraçados, mas o leitor só entenderá se também for conhecedor do assunto. KOCH afirma que

Em nossa atividade de escrita, recorremos constantemente a conhecimentos sobre coisas do mundo que se encontram armazenados em nossa memória, como se tivéssemos uma enciclopédia em nossa mente, constituída de forma personalizada, com base em conhecimentos de que ouvimos falar ou que lemos, ou adquirimos em vivências e experiências variadas.  (p41)


Esses conhecimentos armazenados em nossa memória são fundamentais para que se entenda certos textos, tirinhas, músicas etc., pois podemos recorrer a eles quando for preciso. No texto, ela usa como exemplo algumas tirinhas, dentre elas destaca-se a que faz referência ao dia 1° de abril. Na tirinha, dois personagens conversam e um deles faz vários elogios ao outro e ao final diz que é dia 1° de abril. O efeito de humor constitui-se ao fazer uso do conhecimento culturalmente formado sobre este dia, que é conhecido como o dia da mentira. Mas o leitor só entenderá o sentido do humor contido na tira se tiver conhecimento sobre o dia da mentira.
Para elaborar um texto, o escritor recorre a conhecimentos sobre o gênero, a estrutura e finalidade do texto. O exemplo utilizado no tópico Conhecimento de textos fala sobre a produção de um currículo, em que a personagem pergunta se o currículo pode conter informações sobre a autoestima, o que provoca o efeito de humor, pois o modelo atual de currículo diz quais informações devem ser colocadas nesse gênero textual. Se o leitor não tiver conhecimento sobre os gêneros textuais e sobre a elaboração de um currículo, consequentemente, não entenderá o efeito humorístico contido na tirinha.
            Neste último tópico do capítulo, KOCH retoma o assunto “interação”, e deixa claro que, o escritor, com base em seus conhecimentos interacionais, configura o texto de acordo com a intenção de ambos: do produtor, que deseja passar a informação, e do leitor, que busca um texto de fácil entendimento e que lhe dê o que procura. O autor, ao desenvolver certos textos, pensa no leitor e na quantidade de informação necessária numa situação comunicativa. Neste, assim como nos demais tópicos aqui comentados, KOCH utiliza muito bem vários exemplos para que o leitor entenda de maneira objetiva sobre conhecimento interacional, dentre eles há o exemplo das placas de trânsito, que devem conter informações rápidas e breves, pois os leitores interessados (motoristas) não dispõem de muito tempo para lê-las. O autor deve ajustar seu texto conforme a situação de interação que deseja estabelecer, ou seja, adequar o gênero textual à situação comunicativa.

CONCLUSÃO


No texto abordado, KOCH e ELIAS nos mostram que o escritor, ao produzir um texto, recorre a conhecimentos que possui sobre diversos assuntos: o conhecimento linguístico, que exige que o autor/produtor do texto tenha conhecimento sobre as regras gramaticais, sobre os empregos corretos das vírgulas e demais pontuações; o conhecimento enciclopédico, em que o autor, ao produzir músicas, tirinhas etc., recorre a conhecimentos que têm na memória, sejam eles: cultural, literário, histórico e científico; o conhecimento de textos: sobre o gênero, a estrutura e finalidade do texto e conhecimentos interacionais, em que o autor, ao desenvolver certos textos, pensa no leitor e na quantidade de informação necessária numa situação comunicativa, ou seja, ele ajusta o texto conforme a situação de interação que deseja estabelecer. Elas afirmam que o leitor, ao ler o texto produzido, deve também ser possuidor de tais conhecimentos, para que possa compreender e fazer parte do processo interacional. 

REFERÊNCIA

KOCH, Ingedore Villaça. Escrita e interação. In: Ler e escrever: estratégias de produção textual. In:. Orgs: Ingedore Villaça Koch, Vanda Maria Elias. 2. Ed. São Paulo: contexto, 2012, p31-52.

Fichamento comentado: "Afinal, o que é literatura"

Fichamento do texto:
 
ZAPPONE, Mirian H.Y.; WIELEWICKI, Vera H.G. Afinal, o que é literatura? In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (Orgs). Teoria Literária: abordagens históricas e tendências. 3ª ed. Maringá: Eduem, 2009, p19-30.


“[...] ficamos com a impressão de falar de um objeto, a literatura, como um fato concreto, imediato, pronto e acabado, como se sempre tivesse sido assim.” (p19)

Quando se pensa em “o que é literatura”, a primeira coisa que vem à mente são obras conhecidas há muito tempo, como: os lusíadas, de Camões; dom casmurro, de Machado de Assis etc. Mas nem sempre foi assim. Essa ideia de literatura como algo mais específico, como criação artística que gera um conjunto de textos, só foi desenvolvida na segunda metade do século XVIII e formada, de maneira mais completa, no século XIX.

“[...] em meados do século XV surgem termos correlatos de literatura nas línguas europeias modernas. [...] no intervalo de tempo entre meados desse século e meados do século XVIII [...] o uso desse termo nas diversas línguas estava, entretanto, muito longe de abarcar o caráter especializado com o que vemos hoje.” (p20)

A literatura não correspondia a uma produção artística, mas a um conjunto de textos de diversas áreas do saber: da gramática, matemática, filosofia, história e tantos outros textos que pudessem proporcionar um vasto conhecimento, ou seja, ela estava relacionada à capacidade de ler e possuir erudição.

“[...] a partir do final do século XV a reprodução de materiais escritos começou a transferir-se das mãos dos copistas para a oficina do impressor [...] a literatura passou a ser adquirida de forma mais específica através de textos impressos.” (p20)

A literatura já era bem restrita e com essa transferência passou a ser atributo de poucos, das classes privilegiadas. Por outro lado, CULLER (1999) afirma que “[...] na Inglaterra do século XIX, a literatura surgiu como uma ideia extremamente importante, um tipo especial de escrita encarregada de diversas funções.” p42 (itálico nosso) Dentre essas funções citadas por CULLER, estão: proporcionar aos trabalhadores, desprovidos materialmente, uma baliza na cultura, enaltecer o nacional, as grandezas da Inglaterra, ou seja, a literatura foi transformada em disciplina de instrução nas colônias do império Britânico. Isso mostra que, a literatura deixou de ser atributo apenas das classes privilegiadas, como no final do século XV, e passou a ser difundida, no século XIX, entre as outras classes.

‘[...] no século XVIII que se registraram as primeiras mudanças do uso de literatura como “conhecimento”, “saber”, “erudição” para uso diferente, agora relacionado à ideia de “gosto” ou “sensibilidade”.’ (p20) “[...] as ideias de gosto, de beleza e de sensibilidade, através das quais se defendeu o argumento estético de literatura, foram, sem dúvida, o resultado da atividade de setores dominantes que exerceram a própria atividade do gosto como forma de disseminar seus valores.” (p21)

A partir dessas primeiras mudanças, a literatura foi adquirindo um sentido estético e de produção artística. Os burgueses eram os leitores críticos que consideravam se um texto era literário ou não de acordo com seus gostos, e o que era apenas um gosto burguês, dos “amadores cultos”, passa, a partir do século XIX, ao poder da crítica. Surge então uma nova disciplina, presente cada vez mais nas academias e universidades. A literatura passa de produção com base apenas no gosto burguês à produção crítica.



“[...] a especialização do termo literatura, enquanto texto de caráter “imaginativo” ou “criativo”, tem sua contrapartida num fenômeno também correlato ao desenvolvimento da sociedade capitalista.” (p21)

O argumento do texto literário como criatividade humana servia de subterfúgio para desafiar as repressões impostas pelo sistema capitalista e criticar as novas formas de práticas trabalhistas, que privavam os indivíduos da vida social para que se dedicassem exclusivamente ao trabalho.

“[...] a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX, busca-se definir literatura enquanto dado objeto, concreto e observável. Surgem, nesse momento, propostas de definição de literatura como conjunto de textos portadores de características que corresponderiam a sua literariedade.” (p22)

Essa concepção de literatura enquanto objeto concreto estava relacionada a certas característica estruturais e textuais, próprias do texto literário, que o diferenciava do texto não literário. E a partir daí surge a ideia de que as qualidades internas do texto literário também poderiam ser observadas. Têm-se então as características de literariedade, que são a desautomatização do texto literário, ou seja, ele diferenciava-se dos textos comuns ao utilizar-se do caráter estético, usando a imaginação e criando um mundo ficcional. Mas a partir dessa visão de literatura como algo que provoca prazer e é voltado para o lado estético, começam a surgir reações contrárias.





“[...] a partir da década de 60 do século XX, começam a surgir várias reações a esse ponto de vista, cujos argumentos centrais podem ser encontrados nas relações entre a literatura e seus leitores, já que muitos autores observam que os fatores distintivos de literariedade defendidos pelas correntes textualistas, não eram exclusividade de textos literários, podendo também ser encontrados em textos de natureza referencial.” (p23)

As correntes textualistas diziam que a literatura tinha características textuais específicas que as diferenciavam dos textos não-literários. Mas por outro lado, assim como essas reações contrárias citadas pela autora, ABREU, Márcia. (2006) também afirma que “[...] nem todo texto literário faz um uso artístico da linguagem e que um uso artístico da linguagem não garante que o texto seja tido como literatura. Da mesma forma, nem toda ficção é literária assim como nem toda literatura é ficcional.” p35-36 (itálico nosso) A partir daí, a discussão acerca do que é literatura sai do ponto em que ela é definida como texto com características próprias, que as diferenciavam do texto referencial e passa a centrar-se no leitor, pois o texto só existiria a partir da leitura e da interpretação do leitor. 

“Até o século XVIII, o público leitor era claramente definido: havia “a sociedade polida”, intelectualizada e interessada, tanto pelas artes, quanto pela manutenção de valores morais, e os incapazes de ler, dedicados ao trabalho braçal, com os quais a produção crítica e literária não precisava, grosso modo, se preocupar. A partir daí, entretanto, vai surgindo uma classe de leitores intermediária [...] essa nova classe de leitores burgueses é fortalecida, com suas novas necessidades, o conhecimento especializado vai se definindo, tornando o trabalho do homem de letras extremamente complicado.” (p25-26)  

O trabalho do homem de letras, que era feito de forma amadora, torna-se difícil, pois antes ele escrevia para um público não intelectualizado, contudo, uma classe mais exigente, a nova classe dos burgueses, surge e começa a preocupar o homem de letras, ele afasta-se do meio social e então as discussões literárias passam para o âmbito das universidades.



“[...] a crítica e a teoria literárias estudadas nos meios acadêmicos têm papel fundamental na definição de literatura e nas possibilidades e restrições das leituras literárias.” (p28)

Os professores e especialistas em literatura é quem decidem se uma obra literária é boa ou não. Se tais especialistas dizem que um livro é bom e é tido como literatura, este já passa a fazer parte de um rol literário definido por outros especialistas na área, sem levar em conta se o livro é conhecido por todos ou se já foi lido várias vezes. Por outro lado, obras que já foram lidas muitas vezes e que já encantaram e emocionaram muitas pessoas, não são tidas como literatura. ABREU, Márcia. Diz: “se tantas pessoas os compram e lêem é porque julgam que são produções literárias de alto valor, ou porque se divertem e se emocionam ao lê-los. Entretanto [...], a opinião de professores e intelectuais sobre eles não é das melhores. Quando se trata dos melhores livros do século, os eruditos esforçam-se para lê-los e, sobretudo, para ter o que dizer sobre eles, pois isso é sinal de distinção e os coloca no topo da intelectualidade.” p18 (itálico nosso) Os “livros do século” citados por ela são os definidos como difíceis (de difícil compreensão) e que foram lidos por poucas pessoas, ou somente pelas intelectualizadas.


“[...] pode-se questionar até que ponto as discussões literárias chegam ao público leitor. Quem se importa, além de professores universitários e seus alunos, se um personagem é plano ou redondo, se a narrativa é homo ou heterodiegética, qual seria uma leitura psicanalítica de um conto ou desconstrutivista de um poema? Em quê essa leitura literária “profissionalizada” contribui para a sociedade?”. (p26)

A autora não oferece uma definição para literatura, pois como foi explanado neste capítulo, o termo de literatura passou por diversas definições ao longo do tempo, modificava-se conforme o contexto histórico em que estava inserido. Dessa forma, a análise da estrutura, personagens e demais termos técnicos do texto literário estudados em sala de aula não interessam a quase ninguém, mas as histórias lidas sem nenhum caráter técnico possibilitam aos leitores a criação de novas histórias e, por conseguinte, outras formas de se enxergar o mundo.

REFERÊNCIAS

ABREU, Márcia. Literatura, leitura e cultura. In:______ Cultura Letrada: Literatura e Leitura/ Márcia Abreu. - São Paulo: Editora UNESP, 2006, p11-41.

CULLER, Jonathan. O que é Literatura e tem ela importância? In:________ Teoria Literária: uma introdução. São Paulo: Beça produções culturais Ltda., 1999, p26-47. 

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